#EscolaFeminista: formação em movimento para mudar o mundo

16/07/2021 |

Por Capire

Construção de sujeitos políticos diversos e alianças internacionalistas marcam a ação política feminista e popular

Desde o dia 5 de abril, companheiras e companheires de todas as partes do mundo se reuniram quinzenalmente, por dois dias seguidos, para um processo intenso de formação feminista. Registramos, aqui no Capire, cada encontro da Escola Internacional de Organização Feminista Berta Cáceres.

O encerramento da Escola Feminista, nos dias 5 e 6 de julho, foi potente e muito emocionante. A mística nos transportou para as ruas, nos conectou com nossa capacidade de mobilização em cada parte do mundo, articuladas internacionalmente. Recuperamos as palavras de Bertita porque já não somos as mesmas de quando as escutamos pela primeira vez, no lançamento da Escola. Educação popular, linguagem e espiritualidade, organização da juventude, rádio e comunicação popular fazem parte do legado de Berta Cáceres, e compõem nossa resistência comum.

A síntese dos debates anteriores sobre construção de movimento orientou nossa reflexão nesses dois dias. A perspectiva política da auto-organização do feminismo popular, nossas estratégias e tarefas cotidianas foram apresentadas no vídeo síntese (abaixo):

Em um painel, aprofundamos nossa visão sobre a construção de sujeitos políticos. Carmen Díaz, do México, compartilhou os elementos do sujeito político feminista, plural e popular, articulando a consciência crítica, a interpretação da realidade articulada com o desejo de mudança, a ação coletiva para a transformação, orientada por nosso projeto emancipatório de sociedade.

A partir da identidade política de um sujeito plural que cresce colocando a vida no centro, Llanisca Lugo, de Cuba, compartilhou os desafios e aprendizados que acumulamos nos processos de alianças regionais e internacionais, na construção do internacionalismo solidário e popular.  Entre eles, está a importância de superar o sectarismo e a hierarquização das lutas, a partir de processos de escuta e convergência, de construção de confiança em lutas comuns que façam a integração dos povos.

Tica Moreno, do Brasil, refletiu sobre a comunicação como um processo coletivo fundamental de construção de movimento, contrahegemonia e soberania tecnológica. Como parte da visão política do movimento, fazer comunicação feminista e popular requer enfrentar a naturalização da datificação, democratizar a palavra e registrar nossa memória em movimento, apostando em tecnologias livres.

Em plenária, aprendemos com a construção feminista na Turquia, que enfrenta um contexto de ataques misóginos e autoritários. No Haiti, as mulheres camponesas persistem na organização e luta contra o feminicídio. Na Republica Democrática do Congo, o feminismo se organiza para ampliar a participação política das mulheres com paridade. Nos Estados Unidos, a aliança e solidariedade das lutas antirracistas e feministas com o movimento popular leva a avanços históricos, como a liderança de uma pessoa transgênero não binária em um movimento de trabalhadores. No mesmo país, a organização camponesa enfrenta a injustiça linguística e amplia a autonomia dos sujeitos no processo de construção política. 

Também escutamos as apostas e processos organizativos do feminismo popular no Chile, Quebec e Guatemala. A diversidade de experiências, contextos políticos e estratégias organizativas dão o tom dos desafios, e também da riqueza do caminho que temos construído como feminismo popular, em cada um dos nossos lugares e em nossa aposta de organização internacional. Colocar a economia feminista como eixo do projeto emancipatório que construímos em comum nos permite costurar essa diversidade, construindo a força necessária para confrontar o sistema capitalista, colonialista, racista e heteropatriarcal, como sintetizou Nalu Faria, do Comitê Internacional da MMM.

As quatro organizações que articularam a Escola – Rede Ambientalista Indígena [Indigenous Environmental Network – IEN], Marcha Mundial das Mulheres, Grassroots Global Justice Alliance e Grassroots International – compartilharam os aprendizados com esse processo e compromissos políticos a partir daqui.

Sandra Morán, coordenadora da Escola Feminista, conduziu o encerramento dessa primeira edição, convocando todas e todes que participaram a seguir fortalecendo e ampliando nossos movimentos. São muitos os planos em cada um de nossos territórios, e também de seguimento internacional da Escola. Uma Escola de Facilitadoras, uma Escola Internacional de Organização Feminista presencial, Escolas nos países e regiões, além de esforços coletivos de tradução de materiais, de retroalimentação e construção permanente do internacionalismo feminista e popular.

Nossa formação serve para mais organização e para mais mobilização. Nos formamos em movimento para mudar o mundo.

Redação por Tica Moreno

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