As grandes corporações tentam dominar a economia, a política e as relações sociais por todo o mundo. Sua capacidade de acumulação e exploração sem fronteiras atualiza o imperialismo e o colonialismo, aprofundando a pobreza e atacando a soberania dos povos do Sul Global. Muitas vezes, essas empresas transnacionais têm mais poder que os governos, e fazem pressão por cortes de direitos trabalhistas, privatizações, ataques à democracia, financeirização e destruição da natureza.
Os efeitos para a vida das mulheres são múltiplos, porque precarizam o trabalho (tanto o dito produtivo quanto reprodutivo) e controlam, através de tecnologias privadas, os modos de vida de pessoas e comunidades. Desmantelar o poder das grandes corporações passa por acabar com o capitalismo racista e patriarcal. A preocupação com as dinâmicas de exploração impostas pelas empresas transnacionais é, então, um assunto feminista, e exige uma elaboração crítica coletiva, que aponte para um horizonte de transformação radical da sociedade.
É nessa toada que foi elaborado o material de formação e reflexão Crítica feminista ao poder corporativo, que resulta da 5ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres. A Ação teve a denúncia das empresas transnacionais como um eixo central e, entre março e outubro de 2020, combinou a luta pela sustentabilidade da vida e a resistência nos territórios à proposta de alternativas.
O livro virtual Crítica feminista ao poder corporativo reúne artigos de Nalu Faria, Marianna Fernandes, Tica Moreno, Natália Lobo e Taís Viudes. Os textos se debruçam sobre a atuação das empresas transnacionais na precarização e digitalização do trabalho, na intensificação da divisão internacional, sexual e racial do trabalho, na exploração da natureza e na mercantilização do feminismo (é a chamada “maquiagem lilás”). Está disponível para download gratuito em português e espanhol.
O livro é acompanhado pela série de três animações, disponibilizadas em português, espanhol, inglês e francês. Os vídeos narram o “funcionamento” do poder corporativo a partir de três setores e colocam também as nossas propostas feministas alternativas. Em #1: O trabalho precário, acompanhamos a trajetória da produção de uma roupa, passando pelas cadeias globais de produção, pelo monocultivo do algodão, a produção industrial e as lojas de departamento. Em #2: A alimentação, o caminho feito por um tomate até se tornar ketchup é confrontado pelo caminho mais saudável e justo percorrido por um tomate agroecológico. E, em #3: A digitalização, os dados extraídos das nossas vidas e que saem dos telefones celulares fazem seus trajetos rumo aos destinatários, passando por cabos submarinos e por servidores dos Estados Unidos.
A organização e produção dos materiais contou com o aporte de companheiras da Marcha Mundial das Mulheres do Brasil, da SOF Sempreviva Organização Feminista e de integrantes do Comitê Internacional da MMM, além das contribuições organizadas em debate regional das Américas.