Atualmente, o Sri Lanka está vivendo uma instabilidade e uma crise política e econômica assustadora. E a principal voz nesse enfrentamento tem sido a das mulheres. Estamos em um ponto em que, na atual crise econômica, política e imperialista, as mulheres levaram suas lutas da cozinha para as ruas. Esse é o motivo que levou toda a população do Sri Lanka para as ruas. E é possível ver como o governo se enfraqueceu diante das vozes das mulheres.
Nessas circunstâncias, a comunicação é uma das contribuições das mulheres para a estabilidade política. Minha experiência como agricultora, sobretudo na região da Ásia, é de que as mulheres vivem em uma sociedade patriarcal e, portanto, não têm muitas oportunidades de erguer suas vozes. Em busca de alternativas, olhamos principalmente para as formas como as perspectivas feministas podem ser apresentadas e validadas em comunidades rurais, e a principal abordagem nesse sentido tem sido a da rádio comunitária.
Essa é a principal alternativa que escolhemos. Sabemos que, na mídia capitalista atual, não recebemos o espaço que precisamos. Assim, nossa principal proposta é utilizar a rádio comunitária como modo conveniente de compartilhamento de informações. Há um problema de acesso à leitura e à escrita entre mulheres de comunidades rurais. Elas têm menos tempo para praticar a leitura e escrita, porque passam a maior parte do tempo cuidando dos filhos e da lavoura. Suas possibilidades de se unir a clubes e grupos sociais dentro da comunidade para se reunir e compartilhar informações são muito poucas.
Sempre tentamos facilitar isso selecionando métodos que podem alcançá-las sem muito esforço, como ouvir rádio. Nosso esforço pela rádio comunitária e essa abordagem de comunicação está em construir um ambiente em que as mulheres possam construir seus direitos e capacidades, sobretudo dentro desta sociedade patriarcal e neste processo político.
Nossa maior experiência é a de que, pela rádio, as mulheres construíram canais onde podem expressar suas ideias sem medo. Do mesmo modo, acreditamos que a comunicação é fundamental nessa jornada por transformação política. Os métodos de comunicação estão contribuindo para encontrar abordagens de confirmar suas potências, sobretudo a compreensão mútua entre mulheres rurais e urbanas.
Enfrentamos uma desigualdade imensa no sul da Ásia em termos de compartilhamento de informações, por questões de barreiras linguísticas. Na Via Campesina, sempre acreditamos e propusemos que precisamos construir espaços onde as mulheres possam, com facilidade, expressar suas ideias, compartilhar informações e experiências e, a partir disso, construir suas capacidades. A articulação da Via Camepsina também dá extrema importância ao trabalho nesse aspecto no sul da Ásia. Existe uma hesitação entre as mulheres de expressar suas opiniões na atual cultura. Por meio da rádio comunitária, nossos esforços vão no sentido de tornar as mulheres parte ativa da atual transformação social.
Além disso, desse modo esperamos construir acesso a espaços que elas não tinham oportunidade de acessar antes. Esses são os métodos de compartilhamento de informações que escolhemos usar na construção da transformação social, das atitudes feministas e das capacidades das mulheres. Uma parte essencial disso é o fortalecimento da comunicação para construirmos movimentos de mulheres políticos ativos.
Atualmente estamos trabalhando com mulheres jovens na construção de mecanismos para dar destaque a informações, problemas e experiências das mulheres do campo por meio das redes sociais. Além disso, estamos capacitando jovens mulheres para usar novas ferramentas técnicas. Estamos hoje construindo oportunidades para as mulheres nos povoados, para construir lideranças nas comunidades por meio da rádio comunitária e de revistas alternativas no nível nacional. Como Via Campesina, sempre escolhemos nossos métodos de comunicação com a compreensão das diversidades múltiplas existentes, para fortalecer nossos esforços na construção das lideranças das mulheres. Assim, temos a capacidade de construir lideranças das mulheres que vão levá-las à transformação e à estabilidade política, em que se estabeleça a expressão de suas opiniões.
Por meio de nosso trabalho na região e até no nível internacional, como Via Campesina e a Declaração das Nações Unidas dos Direitos dos Camponeses e das Camponesas, tentamos construir um ambiente onde os direitos das mulheres sejam ratificados. Onde sua coletividade é afirmada em processos em que elas compreendem seu próprio poder. Também em torno das lutas por soberania alimentar, nossa esperança é construir um processo em que o poder das mulheres é afirmado.
Esse é o nosso processo para levar a voz das comunidades rurais ao nível internacional. Nosso esforço permanente é selecionar metodologias de comunicação e indivíduos politicamente conscientes. Hoje há imensas forças sendo construídas entre as mulheres na Ásia a partir do compartilhamento de informações.
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Anuka De Silva é membro do comitê internacional da Via Campesina, representando o Sri Lanka. Este artigo é uma edição de sua apresentação no webinário “Estratégias políticas de comunicação feminista e popular”, realizado por Capire no dia 5 de julho de 2022.