Na pandemia, as mulheres no Marrocos vivem a marginalização e a luta

15/09/2021 |

Por Marcha Mundial das Mulheres do Marrocos

A Coordenação da Marcha Mundial das Mulheres no Marrocos tem acompanhado continuamente as lutas das mulheres contra as políticas de empobrecimento e humilhação que as atingem.

Marche Mondiale des Femmes, 2020

Desde a promulgação das leis de emergência sanitária decorrentes da pandemia em março de 2020, a situação das mulheres no Marrocos piorou muito. As mulheres sofreram mais severamente as consequências da sufocante crise econômica resultante dessa pandemia. As medidas adotadas contra a pandemia agravaram as condições de fragilidade e de pobreza de que elas já padeciam.

A crise sanitária expôs as terríveis repercussões da falta de uma economia nacional orientada para atender as necessidades da população. Ela também revelou a brutalidade das políticas neoliberais impostas pelos líderes do país desde o início da década de 1980, o que levou ao desmantelamento do setor público, à deterioração dos serviços sociais, ao aumento vertiginoso da dívida, ao acúmulo das riquezas nas mãos de um grupo muito pequeno de famílias que dominam a economia e controlam o país, à intensificação da práticas anticompetitivas[1] que favorecem os ricos e poderosos e ao agravamento da corrupção nas áreas econômica e política, entre outras.

Mais violência e mais pobreza

As políticas neoliberais agravaram a vulnerabilidade das mulheres, aumentando sua pobreza, perpetuando o olhar de desprezo sobre elas, e agravando também as várias causas de violência a que estão sujeitas, além de privá-las dos direitos econômicos e sociais mais básicos, como educação, saúde, moradia decente, trabalho decente e proteção social. Essas políticas também privaram as mulheres de direitos políticos e civis, como a participação em cargos decisórios, a proteção contra a violência, o direito à igualdade no seio da família, a preservação da dignidade e o direito à maternidade desejada.

No meio rural, enfrentamos a falta de uma cobertura social para as mulheres, a propagação da crise de água potável, a escassez de alimentos e a terrível exploração das agricultoras e agricultores e trabalhadoras e trabalhadores da indústria de alimentos. Essas pessoas estão mais vulneráveis à infecção devido à completa ausência de meios de prevenção e conscientização entre eles, e à imposição do trabalho durante a quarentena para garantir às cidades os produtos agrícolas de base.

Durante a pandemia, como aconteceu em muitas regiões do mundo, a violência contra as mulheres aumentou, especialmente nas áreas urbanas. Muitas mulheres perderam seus empregos, pois a maioria trabalha no setor informal, que foi fortemente afetado pela crise econômica resultante da má gestão da pandemia por parte do Estado. Em contrapartida, as atividades do trabalho doméstico, não regulamentadas e não remuneradas, aumentaram como consequência da interrupção da maior parte dos serviços sociais e precisaram ser assumidas pelas mulheres.

Mulheres à frente das lutas

Diante dessas más condições de vida, e apesar do peso das mentalidades que marginalizam aquelas que sobressaem na sociedade, as mulheres têm desempenhado um papel importante na luta do povo face à pandemia. Elas contribuíram para essa luta como profissionais de saúde. Elas organizaram a solidariedade nos bairros durante o toque de recolher. Elas realizaram campanhas de sensibilização a respeito das medidas anti-covid-19. Elas deram apoio psicológico às famílias atingidas. As associações de mulheres – incluindo as das membras da coordenação da MMM – se mobilizaram para apoiar as mulheres vítimas de violência, em condições difíceis impostas pela pandemia. As forças de ordem proibiram as mulheres de sair de suas casas durante o toque de recolher, mesmo que quisessem fugir da violência, sem levar em consideração se elas estavam sofrendo ou até sendo expostas ao perigo de serem assassinadas.

Ainda assim, as mulheres têm assumido a liderança na maioria das lutas, organizadas por diferentes categorias sociais e profissionais, como as lutas sociais que o Marrocos tem vivido nos últimos anos, inclusive durante a pandemia. Elas estiveram na linha da frente das greves organizadas pelos profissionais de saúde que exigiam condições decentes e seguras nos locais de trabalho. Das manifestações organizadas por professoras contratadas e professores contratados que reivindicam a integração no setor público. Das greves organizadas pelas trabalhadoras agrícolas forçadas a trabalhar. Essas trabalhadoras exigiam meios de esterilização e prevenção do vírus nos locais de trabalho. As mulheres estiveram presentes nas diversas manifestações populares que aconteceram em pequenas cidades marginalizadas, abandonadas pelas autoridades nas difíceis condições da pandemia e sob as restritivas leis anti-covid.

A Coordenação da Marcha Mundial das Mulheres no Marrocos tem acompanhado continuamente as lutas das mulheres contra as políticas de empobrecimento e humilhação que as atingem. Apresentamos nossa contribuição para as lutas populares, para a luta contra o poder despótico e contra as políticas de prevaricação, exigindo – entre outras coisas – a libertação dos prisioneiros de consciência. As mulheres também participaram em massa – e a coordenação da MMM as acompanha – das manifestações de solidariedade pelo povo Palestino, para denunciar a política de normalização que o regime marroquino adotou abertamente, apoiando assim os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade cometidos pela ocupação sionista.


[1]  No original, l’économie de la rente: exploração, favoritismo e alto nível de corrupção normalizados pelo poder político; abuso de poder para enriquecer de modo ilegal ou ilegítimo                                                                                                     .

Traduzido do francês por Andréia Manfrin Alves
Língua original: francês

Revisão da tradução por Tica Moreno

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