“Mulher exausta”, de L’Encre des Étoiles

05/01/2021 |

Por Capire

O poema “Mulher exausta” é de Linda Kouamé, conhecida como L’Encre des Étoiles [Tinta das Estrelas]

Daim Didier

O poema “Mulher exausta” é de Linda Kouamé, conhecida como L’Encre des Étoiles [Tinta das Estrelas]. Ela foi vencedora do Campeonato Nacional de Slam da Costa do Marfim, em 2019, e por isso participará, em 2021, da Copa do Mundo de Slam, que acontecerá em Paris e Belleville, na França. L’Encre des Étoiles, nascida em Abidjan (Costa do Marfim), é estudante de Comunicação e de Ciências Políticas. Além de slammer, também escreve romances e contos. Ela faz parte da Escola de Poetas da Costa do Marfim, que incentiva a poesia através da formação em leitura, escrita e performance.

Com alguns amigos, nós criamos um grupo de poesia urbana para defender as causas das meninas e mulheres. Através dos nossos textos nós impactamos a sociedade, denunciamos os maus tratos às mulheres e também falamos sobre os seus direitos

Mulher exausta 

Porque sobre ela repousa 
Sou uma mulher cansada de ser forte 
Cansada de ser uma mulher incansável 
Ofereço meu corpo como suporte para a vida 
Em troca bebo frustração no poço da minha angústia

Estou cansada de ser essa mulher que se levanta antes do desabrochar do dia
E adormece após a morte da noite. 
Essa mulher que tem a obrigação de ser sólida 
O futuro do casal

Mas antes de ser mãe e esposa 
Sou uma mulher 
Livre como um pássaro
Em busca de um espaço para expressar seu talento arquitetural

Feita de carne e osso 
E não de ferro e pedra. 
Sou essa mulher que não tem o direito de falhar 
Porque levar uma bofetada seria inadmissível 

Aos olhos da sociedade
Essa mulher que não tem o direito de derramar uma lágrima 
Porque ela corre o risco de inundar a alma do seu homem. 
Eu sou essa mulher que não tem o direito de dizer não

 Porque eu devia ser a maria-vai-com-as-outras de uma sociedade que não se importa comigo.
Mesmo quando seu sorriso 
Não tem vida, devo iluminar seu coração. 
Desfigurada por golpes dados como presentes 

Meu dever ordena que eu permaneça em silêncio. 
Meus direitos trancados na sepultura 
Do silêncio.
Eu deveria ficar calada.

E quando ele viola minha existência 
É um dever conjugal 
Meu corpo já não é minha propriedade 
Segundo a lei você pertencerá a ele depois de dizer sim.

Feminicídio todos os dias 
A justiça tem a orelha tapada 
Aos gritos das mulheres potentes 
Revoltadas são chamadas de rebelde

Mulher indigna 
Segundo essa tradição masculina
Segundo a qual
Ela terá de beber sua dor em silêncio. 

Você nascerá menina, 
Crescerá esposa 
E morrerá mãe 
Me disse a sociedade. 

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Segundo a autora, seu trabalho é “para promover, através do texto, as questões das mulheres, denunciar a crise com a qual convivem as mulheres da nossa sociedade. Nós denunciamos as violências, os desafios e a marginalização através da nossa arte, o slam”.

Traduzido do francês por Bianca Pessoa

Tradução do poema por Andréia Manfrin

Texto originalmente escrito em francês

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