Vilma Espín: uma revolução dentro da revolução

07/04/2023 |

Capire

Para celebrar o nascimento da revolucionária cubana Vilma Espín, publicamos dois de seus discursos sobre a luta das mulheres na ilha

Celia Sánchez, Vilma Espín

Em 07 de abril de 1930, em Santiago de Cuba, nascia Vilma Espín. Ela foi uma das lutadoras mais ativas do período revolucionário. No período pré-revolucionário, Vilma participou do Movimento 26 de julho, que homenageava o assalto ao quartel Moncada, uma investida da guerrilha revolucionária que aconteceu em 26 de julho de 1953, cinco antes do triunfo da Revolução Cubana, e da qual Espín também participou.

Após a revolução, ela assumiu diversos papéis de liderança no Partido Comunista de Cuba, bem como na organização das mulheres. As mulheres cubanas criaram espaços fundamentais para a auto-organização e construção coletiva, como a Federação de Mulheres Cubanas, da qual Espín esteve na liderança desde a criação, em 1963, até sua morte em 2007.

Com as mulheres cubanas, as feministas de todo o mundo aprendem que a luta das mulheres é revolucionária, e que uma transformação radical da organização da sociedade é possível. Vilma Espín foi uma das que diziam que as mulheres são “uma revolução dentro da revolução”, inclusive por serem elas as responsáveis por aprofundar os processos de mudança e combater o patriarcado, inaceitável no socialismo.

A seguir, compartilhamos dois discursos de Vilma Espín, para que possamos aprender com ela a partir de suas próprias palavras. Em “O exemplo das cubanas em outras latitudes”, Espín fala sobre as lutas das mulheres pela soberania e pela independência na região latino-americana, assim como os desafios para combater a pobreza, o poder transnacional e a desinformação. Já em “Mulher: uma revolução dentro da Revolução”, ela relata as mudanças trabalhistas para as mulheres no socialismo e as conquistas que tiveram em diversos setores. Ambos os textos foram extraídos do livro Vilma EspínGuillois: El fuego de la libertad [Vilma Espín Guillois: o fogo da liberdade], organizado por Yolanda Ferrer Gómez e Carolina Aguilar Ayerra e publicado pela Editorial de la Mujer, de Cuba, em 2015. 

O exemplo das cubanas em outras latitudes

A força das mulheres latino-americanas e de seu poderoso movimento tem ganhado, cada vez mais, uma maior proporção; essa é mais uma demonstração da possibilidade de nos unirmos mais estreitamente em torno de objetivos essenciais para o futuro dos nossos povos.

Ao longo desses anos, a participação feminina na luta pela independência e pela soberania nacional, na luta por abrir caminhos para o desenvolvimento, têm crescido sistematicamente. Acabou-se o tempo no qual só mulheres excepcionais podiam se destacar na vida econômica, política e social de seus países e agora e inicia-se uma nova etapa, na qual muitas delas podem participar, cumprindo um importante papel na sociedade.

Levar cada vez mais informação aos amplos setores femininos sobre os motivos reais da situação em que vivem, mobilizar as massas de mulheres para que possam contribuir, com influência e atuação, para conquistar os objetivos de seus povos, para conquistar seus direitos mais genuínos, é realmente um compromisso de honra para cada mulher consciente da região.

É necessário que nossa voz ultrapasse a barreira das mentiras, da desinformação imposta pelos meios de comunicação comandados pelas transnacionais imperialistas, encarregados de gerar confusão, de dividir, de desviar as massas dos seus legítimos interesses. Vencer esta batalha só será possível empregando esforços obstinadamente, unindo-se fortemente frente ao poderoso e inescrupuloso inimigo que ameaça a sobrevivência dos povos desse continente.

Não são as mulheres as que mais sofrem as consequências da crise econômica que afeta de forma mais cruel as maiorias despossuídas, tendo impactos também em outras classes sociais dos países da América Latina e do Caribe?

As mulheres sofrem de forma dramática o impacto da inflação, da carestia da vida, da falta de alimentos, de escolas, de serviços médicos para seus filhos: da miséria, da fome, da falta de esperança; são elas que estão em postos de trabalho desumanos, com míseros recebimentos, que estão empregadas nas indústrias maquiladoras, que recebem salários inferiores em qualquer posto, e que são as primeiras a ir para o olho da rua quando o desemprego chega.

Dezenas de milhares de mulheres são forçadas a entrar na prostituição para poder sustentar suas famílias. É possível, em pleno século XX, conceber uma situação mais terrível do que a daquelas infelizes dominicanas asfixiadas em um contêiner de barco enquanto eram transportadas como uma mercadoria qualquer para exercer esse ofício em outra ilha do Caribe?

Hoje as mulheres fazem parte da realidade atual, dos problemas econômicos, políticos e sociais que nossos países enfrentam; há, nas mulheres do continente, a disposição de atuar e responder ao chamado do momento.

Mulher: uma revolução dentro da Revolução

O socialismo para as mulheres cubanas significou liberdade, independência, soberania, dignidade, justiça social, segurança para a formação e desenvolvimento dos filhos, direito à igualdade, direito à vida, a decidir sobre o próprio destino, a trabalhar por um futuro sonhado e defendido com todas as forças.

Nós, mulheres cubanas, somos quase metade da população, somos uma alta porcentagem da força de trabalho, dos técnicos do país, sendo possível observar uma tendência de estabilidade e aumento do nível de participação, já que, tanto na graduação como na matrícula feminina, é possível observar um crescimento contínuo em todos os cursos.

Na intelectualidade cubana, entre artistas, escritores e profissionais de destaque, o talento feminino se sobressai. Temos a satisfação de ter uma cientista que ostenta a medalha de Propriedade Intelectual da Organização Mundial da Prosperidade Industrial, concedida a apenas 192 cientistas do mundo. Também no esporte as cubanas têm alcançado feitos extraordinários, temos campeãs internacionais em várias áreas e especialidades. Em inúmeras profissões, de todos os setores, figuras femininas se destacam pela inteligência e eficiência, pela capacidade e habilidade demonstradas.

Também podemos apreciar uma importante incorporação ao setor da construção, no qual se destaca, como resultado da revitalização empreendida pelas microbrigadas, a incorporação de milhares de mulheres a esse movimento, Temos inúmeros exemplos de eficientes companheiras construtoras, azulejistas e com outras especialidades. A composição feminina segue sendo majoritária entre os trabalhadores da educação e da saúde.

As medidas destinadas a promover a incorporação da mulher camponesa ao emprego estão integradas à política econômica e social do país para o desenvolvimento rural integral. Milhares de camponesas que integram o Movimento Cooperativo trabalham de forma regular ou têm uma influência significativa no sucesso das colheitas.

O horizonte de trabalho das mulheres cubanas se transformou. A decisão política e as medidas tomadas a partir dela permitem iguais oportunidades e possibilidades na esfera do trabalho.

Hoje todas nós sabemos onde devemos estar, como atuar, com quais meios, como seguir vivendo e produzindo de forma organizada durante um período de bloqueio total, de ameaça militar, de guerra de desgaste, até mesmo de invasão e de ocupação, para derrotar o inimigo; e a Federação de Mulheres Cubanas têm trabalhado intensamente nesse processo de preparação.

Temos consciência dos momentos difíceis que vivemos e sentimos um profundo orgulho de defender nossa ideologia marxista-leninista, de defender os princípios do socialismo. Nós, mulheres cubanas, compreendemos que a conquista da igualdade plena no seio da família e da nossa sociedade só é possível dentro deste sistema.

Temos plena consciência daquilo que conquistamos e estamos decididas a lutar de todas as maneiras para defender nossa realidade, nosso futuro e o futuro dos nossos filhos.

Redação da introdução por Helena Zelic
Seleção de textos por Marilys Zayas
Traduzido do português por Luiza Mançano
Idioma original: espanhol

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