Lutar por Palestina livre não pode ser crime: movimentos populares do mundo articulam solidariedade

24/11/2021 |

Por Capire

Leia trecho da declaração contra a classificação de organizações palestinas como “terroristas”

No dia 19 de outubro, o Estado de Israel classificou seis organizações civis palestinas como “terroristas”, sendo uma delas a União de Comitês de Mulheres Palestinas (Union of Palestinian Women’s Committees – UPWC). Essa classificação é parte da política de apartheid e ocupação israelense. A UPWC é uma organização feminista, progressista e civil popular,  formada em 1980, que luta para garantir a afirmação das mulheres nas  leis vigentes na Palestina. Faz parte do movimento nacional palestino  que luta contra a ocupação israelense para alcançar a independência e autodeterminação. Também estão nessa lista a União de Comitês de Trabalho Agrícola (Union of Agricultural Work Committees – UAWC), a associação de direitos humanos e apoio a pessoas presas Addameer, o centro de pesquisa e desenvolvimento Bisan, a organização de defesa dos direitos humanos al-Haq e o comitê palestino da organização internacional Defesa das Crianças (Defense for Children).

A ameaça de deter, prender e embargar os bens da União de Comitês de Trabalho Agrícola (UAWC) e outros defensores pacíficos dos direitos humanos palestinos é uma tentativa flagrante de criminalizar, estrangular e silenciar a organização bem-sucedida e alicerçada em em toda a Palestina ocupada… Lutar por soberania alimentar não é crime!

VIA CAMPESINA

No dia 7 de novembro, as Forças de Defesa de Israel reclassificaram essas mesmas organizações como “não autorizadas”, o que abre ainda mais o caminho para criminalizá-las. A política de ocupação e controle de Israel sobre o território palestino tem custado muitas vidas e gerado violência, destruição e pobreza. Prisões, perseguições e ameaças de criminalização são parte da estratégia colonial do Estado de Israel para dificultar a organização popular do povo palestino, como é o caso da prisão administrativa da militante feminista Khitam Saafin, que dura mais de um ano, desde o dia 2 de novembro de 2020.

Israel ataca de forma intencional as organizações palestinas que denunciam Israel justamente pelo que é: um Estado colonial e colonizador que promove o apartheid. Essas organizações estão comprometidas com a proteção e defesa da segurança, da liberdade e do direito de nossos povos de viver em uma sociedade justa em nossa própria terra. Lutamos todos os dias contra a ocupação, o roubo de terras, a limpeza étnica, o colonialismo de povoamento e o regime violento desse apartheid.

UNIÃO DE COMITÊS DE MULHERES PALESTINAS (UNION OF PALESTINIAN WOMEN’S COMMITTEES)

A solidariedade internacionalista é uma estratégia fundamental dos movimentos populares para denunciar ataques como esses, apoiar as organizações ameaçadas e zelar pela vida e pela liberdade de suas e seus militantes. Por isso, organizações como a Via Campesina, Marcha Mundial das Mulheres, FIAN Internacional, Grassroots Internacional, Amigos da Terra Internacional e CETIM assinam uma declaração de solidariedade internacionalista com a sociedade civil palestina e coletou a assinatura de dezenas de organizações de todo o mundo. A declaração está aberta para receber assinaturas de outras organizações.

O texto exige que o Ministério de Defesa e as Forças de Defesa de Israel retirem suas declarações recentes. Leia abaixo um trecho do texto que denuncia os perigos da classificação de terrorismo e desautorização:

“As seis organizações que o governo israelense criminalizou fazem parte da base da sociedade civil palestina que há décadas protege e promove os direitos humanos das palestinas e dos palestinos em todo o espectro de questões de interesse global, incluindo os direitos das crianças, direitos das pessoas presas, direitos das mulheres, direitos sócio-econômicos, direitos dos trabalhadores agrícolas, justiça e responsabilização por crimes internacionais. Esta denominação é um passo terrível na criminalização e nos esforços para silenciar a sociedade civil palestina que se opõe à ocupação desumana do governo israelense. As decisões de denominação publicadas dão ao governo israelense a possibilidade de fechar escritórios, prender funcionários e integrantes das organizações criminalizadas e confiscar os bens da organização. As sanções podem ser estendidas àqueles que ajudam ou estão em contato com as organizações criminalizadas. Em conjunto, estas ações do governo israelense representam uma ameaça à segurança das pessoas que compõem estas organizações, às próprias organizações e ao trabalho muito importante que elas realizam na promoção e proteção dos direitos humanos”.

A declaração compõe um conjunto de ações em campanha de solidariedade ao povo palestino. Organizações populares que assinam a declaração marcaram o dia 29 de novembro como uma data de mobilização nesse calendário de luta permanente por uma Palestina livre. A luta pela autodeterminação palestina é uma luta de todos os povos do mundo.

Redação por Helena Zelic

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