Ruth Vanita é uma poeta, professora e pesquisadora indiana. Foi uma das fundadoras da revista feminista Manushi [em hindi, “pessoa”], que circulou entre 1978 e 1990, e é autora e organizadora de diversos livros de poesia e de crítica sobre literatura LGBT+ na Índia. Em “Discurso”, poema que integra seu livro A Play of Light (Um jogo de luz, em tradução livre), de 1994, Vanita fala sobre o amor e a necessidade de vivê-lo, afirmá-lo, falar sobre ele.
Durante uma entrevista para Jayati Lal, da Universidade de Michigan, em 2004, Ruth Vanita contou sobre o contexto que inspirou a escrita dos poemas de amor que compõem A Play of Light, e sobre como as relações lésbicas são facilmente ocultadas por interpretações heteronormativas.
Esses poemas de amor, em sua maioria, falam sobre relacionamentos muito diferentes com três mulheres naqueles anos. Na verdade, um deles foi anterior, mas os outros aconteceram entre 1990 e 1994. E foi apenas minha forma de lidar com as dificuldades desses relacionamentos, e em quase todos esses poemas eu mantive uma grande incerteza em relação ao gênero, coisa muito comum entre poetas homossexuais ao longo do tempo. E é irônico que uma resenhista na Índia simplesmente supôs que era uma mulher escrevendo para um homem.
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Discurso
A primeira palavra que disseste não foi “amor”.
A primeira palavra, ao te pôr, olhos fechados,
Na tarde de um quarto escuro,
Quando, de pé, me olhaste,
Meteoro no breu do couro,
Quando ajoelhaste, num tapete voador verde,
Tua boca, uma rosa sem estereótipos,
Quando teu cabelo se prendeu em meus lábios
E teve de ser gentilmente desenroscado.
Quando chegaste, no início, e antes
De falar, tua primeira palavra,
Teu primeiro sonho, sussurra, grita,
Brilha em mim, chove em mim,
Ergue-te devagar no horizonte, e diz,
Quando peço, a mesma sílaba, me
Benze com coisas simples, me chama
Mais, me leva a me encontrar – sim –
tua – sim, e de novo, de novo sim.