Yildiz Temürtürkan: “As mulheres saarauís lideram o feminismo popular internacional”

14/03/2025 |

Capire

Leia o discurso de lançamento da 6ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Saara Ocidental

Mulheres de todas as regiões do mundo saíram às ruas no 8 de março de 2025 para dar início à 6ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres. De cinco em cinco anos, as ações internacionais são organizadas, reforçando a conexão global entre as lutas travadas pelas mulheres em seus territórios. A abertura pública da 6ª Ação aconteceu em um acampamento de pessoas saarauís refugiadas em Tindouf, na Argélia. Estiveram presentes representantes de nove países, além de importantes lideranças saarauís dos cinco acampamentos de Tindouf, das zonas ocupadas pelo Marrocos e do presidente da República Árabe Saarauí Democrática (RASD).

As ações internacionais também são momentos de atualização da plataforma política do movimento. Em 2025, o conteúdo da ação reposiciona os eixos da Marcha Mundial das Mulheres: economia feminista, enfrentamento à violência, defesa dos bens comuns e paz e desmilitarização. O fim das ocupações no Saara Ocidental e na Palestina está no centro dessa ação, cujo lema é “marchamos contra as guerras e o capitalismo, defendemos a soberania dos povos e o bem viver”.

Na sede da União Nacional das Mulheres Saarauís, Yildiz Temürtürkan, coordenadora do Secretariado Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, fez um forte discurso sobre a centralidade da luta feminista popular das mulheres saarauís para a construção do internacionalismo. Leia abaixo na íntegra.

O calendário de lutas da 6ª Ação segue intenso ao longo do ano, até seu encerramento em 17 de outubro. Durante esse período, serão realizadas atividades simultâneas internacionais, ações regionais, nacionais e locais, mobilizações e campanhas de solidariedade feminista.

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O que fura a pedra não é o poder da água, mas a pressão contínua das gotas. Assim, é importante continuar lutando. Hoje vivemos um grande momento histórico: vimos o crescimento de muitos movimentos sociais e organizações de mulheres e feministas. A Marcha Mundial das Mulheres está cada vez maior e cada vez mais forte. Isso é graças ao feminismo popular ao qual pertencemos. Um deles, liderando a nossa luta, é a luta das mulheres saarauís.

Hoje, enquanto estamos aqui, as mulheres saarauís não são apenas as lideranças e protagonistas de sua luta por libertação. Elas também lideram o feminismo popular internacional. Esse é um reconhecimento de sua contribuição para o internacionalismo. Hoje, estamos aqui, vindas de diversos países. Temos delegações do Brasil, da Venezuela, de Cuba, da Tunísia, da Argélia, da Tanzânia, de Uganda, da África do Sul e da Turquia.

Meu país, a Turquia, nasceu da guerra de libertação há cem anos, quando o território era ocupado por países imperialistas e exércitos dos países europeus. Tivemos a experiência de uma guerra de libertação e sabemos o que significa criar um país do zero. Dizemos que uma terra só é um país se houver pessoas dispostas a morrer por ele. Isso torna nossa terra um país, porque sabemos o que significa morrer por um país.

Nós sentimos a luta aqui. Não é só uma luta por libertação, mas a criação de vida. Vocês vivem em conjunto e constroem uma vida coletiva que é uma alternativa para o sistema capitalista opressivo que hoje afeta todas nós. Nós, como feministas internacionais anticapitalistas e anti-imperialistas, temos grande apreço pela luta das mulheres saarauís.

Essa é uma luta importante para sustentar a vida nessas condições. Não se trata apenas de fazer parte de uma guerra de libertação nem de sofrer a opressão, a tortura e a prisão. Vocês estão criando uma nova vida, organizando a vida de forma alternativa em condições duríssimas, e mostrando para nós que é possível sustentar a vida em situações de guerra.

Hoje é um dia importante porque todas as guerras se inter-relacionam e interconectam, da Ucrânia ao Saara Ocidental, da Palestina à Síria. O que isso significa para nós? Precisamos conectar e articular as nossas lutas pelo feminismo, pela libertação das mulheres, mas também pela libertação dos povos. Precisamos trabalhar em articulação e aliança, em conjunto com todas as forças progressistas do mundo, para defender a vida contra o necrocapitalismo.

Por isso estamos em um grande momento histórico. Estamos realizando nossa 6ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres em meio a situações de guerra por todos os lados. Isso levanta muitos desafios. Não foi possível trazer metade de nossa delegação para cá por dificuldades com a liberação de vistos, por exemplo. Estamos enfrentando muitos desafios nessa luta para construir o internacionalismo entre nossos povos. Não é fácil, mas estamos aqui hoje com vocês. É importante expressar nossa solidariedade em todas as partes do mundo por ocasião do 8 de março e expressar nossa solidariedade com as mulheres saarauís.

Introdução por Helena Zelic
Edição por Tica Moreno
Traduzido do inglês por Aline Scátola
Idioma original: Inglês

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