Organizações de mulheres palestinas lutam por liberdade

13/09/2022 |

Por Tahreer Jaber

 

União de Comitês de Mulheres Palestinas defende seu papel histórico no enfrentamento da ocupação israelense

Oren Zi

A União de Comitês de Mulheres Palestinas (UCMP) é uma organização feminista, popular, civil e progressista fundada em 1980. De lá para cá, a entidade sempre lutou para construir uma sociedade palestina civil, democrática e progressista, livre de todas as formas de discriminação, em busca da justiça. A união tem o objetivo de melhorar a situação das mulheres palestinas e de fortalecê-las para garantir a real igualdade entre homens e mulheres e a justiça social para todos os setores da sociedade.

A união é considerada parte fundamental do movimento nacional palestino que luta para se livrar da ocupação israelense. A organização luta lado a lado com todos os movimentos progressistas árabes e internacionais, contra a agressividade da globalização e contra todas as formas de discriminação e injustiça a que qualquer grupo social do mundo esteja exposto, sobretudo as mulheres.

Na UCMP, acreditamos no direito das mulheres em geral, e das mulheres árabes e palestinas em particular, de lutar por liberdade, igualdade e justiça social, enfrentando desafios de todas as formas e em todas as causas. Esses desafios são representados pelas restrições sociais impostas às mulheres, privando-as de defender seus direitos; pelas práticas da ocupação contra os filhos e as filhas do nosso povo; e pela imagem social estereotipada que marginaliza as mulheres e seu papel.

Nossa visão se baseia na importância do papel do movimento feminista e na necessidade de articulá-lo sensibilizando as mulheres sobre os direitos que lhes são roubados e sobre a viabilidade de sua luta por liberdade e justiça social.

Apesar da nitidez de sua visão sobre direitos humanos, considerando os direitos das mulheres como componente essencial do povo palestino, a União de Comitês de Mulheres Palestinas enfrentou e ainda enfrenta dificuldades e desafios que buscam liquidar seu trabalho e legado histórico no apoio à resiliência da mulher palestina. Essas dificuldades estão representadas nas diversas prisões sofridas pela presidenta da UCMP, na proibição de viajar, na busca e apreensão de voluntárias e funcionárias da união, na invasão de sua sede e na adulteração de provas e no confisco de propriedades da organização.

A UCMP está enfrentando uma campanha de difamação lançada pela entidade colonial sionista, que têm tachado a organização de terrorista. As violações dessa ocupação brutal não se limitam aos atos de violência, assassinato, expulsão e prisão contra nosso povo, mas se estendem também contra nossas antigas organizações de direitos civis. Essas organizações sempre foram consideradas um corpo histórico e militante que expressa e defende os direitos do povo palestino e os direitos de suas mulheres e crianças.

No dia 19 de outubro de 2020, o dito ministro israelense de Guerra e Ocupação, Benny Gantz, classificou seis consagradas instituições palestinas de direitos humanos e da sociedade civil como “instituições terroristas” segundo a Lei Israelense de Combate ao Terrorismo de 2016. Uma ordem militar também foi publicada no dia 3 de novembro de 2021 declarando a “ilegalidade” dessas instituições, para estender a aplicação dessa resolução ao território palestino ocupado.

Essa classificação acontece em meio às contínuas políticas da ocupação, que solapam e restringem tudo que é palestino e desarticulam qualquer órgão de proteção, defesa e apoio ao povo palestino, a suas mulheres, pessoas idosas e crianças. É apenas uma evidência inquestionável da importância de nosso papel no enfrentamento às políticas da ocupação contra nossas mulheres palestinas, que incluem detenções, assassinatos, agressões e perseguição. Ainda assim, essa classificação é mais um passo e peça fundamental na escalada de uma série de campanhas sistemáticas de difamação contra militantes, homens e mulheres, de instituições de direitos humanos. Não passa de uma extensão da política de apartheid e da imposição de controle sobre o povo palestino, incluindo todos os seus componentes.

A decisão de criminalizar essas instituições legitimaria a vingança contra elas e a responsabilização injusta delas. Como essa classificação busca liquidar o trabalho civil palestino, isso significa proibir as atividades dessas instituições, cortando seu financiamento e preparando a prisão de seus funcionários e voluntários, acusando-os de pertencer a organizações terroristas. Por fim, mas não menos importante, legitimam-se as batidas policiais, o confisco de seus bens e o fechamento de suas portas.

Essa classificação preocupa as mulheres que trabalham na União de Comitês de Mulheres Palestinas – 45 funcionárias atuam na união, que, por sua vez, oferece oportunidades de emprego a cerca de 60 educadoras em jardins de infância, além de atender mulheres que se beneficiam do apoio psicológico, jurídico, social e econômico nos programas da entidade. Essas mulheres ficaram mais vulneráveis à violência, pois sofrem ao serem privadas de receber esse apoio. Além disso, os jardins de infância Ghassan Kanafani afiliados à União de Comitês de Mulheres Palestinas – a maioria localizada em áreas e comunidades palestinas marginalizadas – garantem a formação de cerca de mil crianças todos os anos. A classificação [de terrorismo emitida pela ocupação israelense] priva essas crianças do direito à educação garantido a todas as crianças do mundo.

Essa classificação não tem nenhuma justificativa legal e, portanto, consiste em uma série de invenções e acusações infundadas. Talvez o elemento mais importante que comprova isso seja a declaração de nove países europeus sobre a continuidade de sua cooperação com as seis instituições palestinas classificadas como “terroristas”, pela ausência de provas das alegações da ocupação. Esses países confirmaram que continuarão com a cooperação na ausência de provas que corroborem as alegações, indicando a necessidade de tratar com seriedade dessa classificação injusta e arbitrária contra as instituições de direitos humanos.

Nós, da União de Comitês de Mulheres Palestinas, acreditamos no nosso direito humanitário e nacional, legitimado por todos os estatutos humanitários e internacionais, de realizar nosso sonho e nossa visão de nos livrarmos da ocupação e vivermos com dignidade em nossa terra. Acreditamos no nosso direito de praticar todas as formas de resposta legítima. Portanto, o processo de defender os direitos das mulheres palestinas e de oferecer apoio psicológico e jurídico a elas, fortalecendo-as econômica e socialmente e estimulando o desempenho de seu papel, continuará sendo um objetivo elevado que buscamos alcançar.

Além disso, nosso direito à liberdade e à expressão de nossa posição feminista com relação aos problemas é parte fundamental de nossa fé e convicção dentro de nosso marco feminista, a despeito de todas as tentativas de distorção e de todas as formas de injustiça contra nossas mulheres, que padecem diante de pobreza, exploração, opressão e colonialismo. Também afirmamos que nossa luta pela nossa liberdade e pela liberdade de nossas mulheres é parte intrínseca da visão pela qual lutamos, no passado e no presente. Desse modo, não vacilaremos nem deixaremos de defender nossos firmes direitos históricos. Essa classificação [de terrorismo] só aumentará nossa persistência, determinação e disposição de continuar a recuperar nossos direitos usurpados e a enfrentar a entidade da ocupação e suas decisões arbitrárias.

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Tahreer Jaber é integrante da Marcha Mundial das Mulheres na Palestina e diretora-executiva da União de Comitês de Mulheres Palestinas.

Traduzido do inglês por Aline Scátola
Língua original: árabe

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