No Afeganistão, as mulheres ainda resistem à repressão

11/03/2022 |

Por Yasamin Afghan

Yasamin Afghan revela o cotidiano das mulheres afegãs e denuncia o assassinato e encarceramento daquelas que resistem ao regime brutal do Talibã.

10/12/2021, RAWA.org

Há quase sete meses, o povo afegão vem perdendo seus direitos e, especialmente, as mulheres afegãs se tornaram o principal alvo do regime brutal do Talibã. Mulheres e meninas afegãs são mantidas como reféns pelo Talibã e usadas como objeto de negociação quando o Talibã quer alguma coisa da comunidade internacional.

As mulheres afegãs foram instruídas a não sair de suas casas sem um familiar do sexo masculino, mesmo que seja um menino de cinco anos. As mulheres foram instruídas a se cobrirem e suas vozes foram proibidas nos canais de rádio e televisão, embora algumas âncoras femininas ainda estejam trabalhando, mas isso se limita apenas à cidade de Cabul. Fora de Cabul, a vida como um todo se tornou um inferno para as mulheres no Afeganistão.

As mulheres foram instruídas a se cobrir da cabeça aos pés com hijabs pretos. Roupas coloridas e saltos altos foram proibidos, especialmente para estudantes universitárias. Recentemente, as universidades retomaram o trabalho, mas com aulas segregadas e alunas sendo detidas por usarem qualquer adeeço considerado inapropriado pelo Talibã.

O cenário geral em Cabul é sombrio. Se perguntadas, as mulheres dirão que há batidas diárias nas feiras e nos mercados. Se uma mulher sai sozinha, em pouco tempo o Talibã aparece e passa a espancá-la e insultá-la.

As escolas ainda estão fechadas em todo o Afeganistão, mesmo em áreas consideradas seguras, ainda que a justificativa dada seja por “motivos de segurança”. A verdade é que as universidades só reabriram porque o Talibã quer apresentar uma imagem favorável de si, mas o que realmente está acontecendo não está sendo coberto pela mídia internacional ou local.

As mulheres afegãs estão protestando desde o primeiro dia do retorno do Talibã. É por isso que o Talibã tem medo da valentia das mulheres afegãs, e é por isso que muitas das manifestantes foram presas, espancadas e há relatos de que também foram estupradas. Mesmo agora, algumas ativistas ainda estão detidas.

Ativistas são rastreadas e mortas. Seus corpos são encontrados mortos e, de acordo com o Talibã, são atiradores “desconhecidos” que matam essas mulheres. Nós, o povo do Afeganistão, sabemos que o Talibã é o “atirador desconhecido”, pois foi um dos responsáveis pela eliminação de figuras progressistas.

Há uma forte censura no Afeganistão e a mídia local não se atreve a mostrar a brutalidade do Talibã. Fora de Cabul, há espancamentos públicos e outras punições, assim como ocorria no período anterior em que o Talibã esteve no poder, de 1996-2001.

O Afeganistão já foi esquecido, especialmente com a crise que se desenrola na Ucrânia. O mundo parou completamente de olhar para o Afeganistão. Enquanto o mundo se concentra na Ucrânia, o Talibã vem realizando batidas de casa em casa em Cabul, Parvan e Capisa e prendendo pessoas, disfarçados de sequestradores, membros do Daesh [Estado Islâmico, sigla em árabe]  e similares. Devido à censura, ainda não temos números exatos de quantas pessoas foram presas.

Editado por Tica Moreno
Traduzido do inglês por Carolina Kuhn Facchin
Revisão da tradução: Helena Zelic

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