‘Eles têm o medo, nós temos a esperança’ é o slogan que resume a ênfase da campanha rumo ao segundo turno das eleições presidenciais da candidata Luisa González da Revolução Cidadã. Após o empate técnico com Daniel Noboa, alcançado com um fiel apoio popular que enfrenta o uso arbitrário e abusivo de poder e dos recursos públicos pelo candidato-presidente, o cenário eleitoral no Equador ficou definido entre a tendência progressista e a coalizão de direita unida em torno do novo partido Ação Democrática Nacional (ADN).
Esta nova disputa entre os mesmos dois atores políticos mostra diferenças em relação a 2023. A dispersão do voto marcou o primeiro turno daquela eleição: Luisa González, a única candidata mulher, ficou em primeiro lugar com 33%, Daniel Noboa em um surpreendente segundo lugar com 23%, e os 44% restantes ficaram distribuídos entre as outras seis duplas de direita, em proporções variáveis. No primeiro turno de 2025, o número de candidaturas dobrou (16), mas a votação ficou concentrada: 44,17% para Daniel Noboa, 44% para Luisa González, muito atrás de Leonidas Iza do Movimento Pachakutik com 5,25%, os 6,58% restantes ficaram distribuídos entre os outros treze candidatos, quase todos de direita.
É evidente que a direita está encontrando uma nova referência de coalizão em um ambiente que combina a família-corporação presidencial, um grupo de elite bastante feminizado e jovem, e antigos quadros de partidos de centro-direita e de direita que fracassaram e que estão sendo reciclados. Um vetor para essa relativa feminização está associado à paridade de gênero estabelecida na Constituição de 2008 (atualmente em vigor) e nos regulamentos dela derivados.
A elite oligárquica e seus seguidores usam o medo como recurso para amedrontar a população por vias diversas e, assim, neutralizar resistências à sua agenda de ambição sem limites por riqueza e poder. As ferramentas do medo são a violência direta e simbólica, a mentira, a perseguição, a criminalização, a destruição material e social, o uso da força pública para fins privados e o desprezo pela dignidade e pela vida das pessoas. Nessa agenda de medo, está incluída a declaração de “guerra interna” do início de 2024, que autoriza todo tipo de arbitrariedades por parte do governo, de setores que o apoiam em uma mistura de interesses econômicos e ideológicos, e da mídia hegemônica que sustenta sua imagem e seu projeto.
Nesse contexto, Luisa González chega pela segunda vez consecutiva ao segundo turno das eleições presidenciais. Se não houver interferência nos resultados como se teme, ela será a primeira presidenta do país. Um passo histórico que se tornou ainda mais significativo nas difíceis condições de “ascensão e afirmação das mulheres na política progressista em meio a uma violência política sem precedentes, com incidentes que vão de assassinatos à violência política de gênero“.
Medo e esperança se unem na campanha eleitoral, que começou formalmente no domingo, 23 de março, com o debate entre os candidatos. Em um cenário caracterizado pela polarização, os evidentes preconceitos de classe e gênero manipulados pelos que estão no poder não são apenas características típicas de qualquer campanha eleitoral, mas também sinalizam o quanto está em jogo um resultado considerado decisivo para o destino do povo e do país como um todo.
Denunciar o medo e transmitir esperança foi parte do desafio no debate. A candidata falou com segurança e energia, expressando por vezes a indignação que o povo sente diante da situação crítica que está vivendo. Ela abordou, com propriedade, os temas de sua proposta de “reviver o Equador”, baseada em uma recuperação das instituições e do investimento público, no enfrentamento direto da crise de segurança e violência, na prioridade de direitos fundamentais como saúde e educação e na reativação produtiva. Com base em dados oficiais, ela denunciou o agravamento da violência, o empobrecimento e as múltiplas crises durante essa gestão, as negociações de bens e recursos públicos em favor das empresas pela família presidencial, os vínculos dessas empresas e do novo partido ADN com o narcotráfico e os diversos casos de abusos contra as mulheres cometidos por Noboa. A lista de exemplos é extensa, incluindo desde a proscrição arbitrária de sua própria vice-presidenta até os processos judiciais e a perseguição de sua ex-mulher e sua família.
Por sua vez, o candidato demonstrou uma atitude prepotente, irônica e de desqualificações. Ele defendeu sua gestão com dados falsos, fez ofertas retóricas e medíocres, usando alusões às mulheres como beneficiárias. Confirmando uma gestão patrimonialista, anunciou a entrega imediata de títulos especiais para diversos setores, ao mesmo tempo em que alega crise fiscal para atender às dotações atuais essenciais ao funcionamento das instituições e serviços básicos. Seja qual for o tema discutido na época, ele repetidamente fez acusações falsas contra a Revolução Cidadã, retratando esse setor como um grupo de ladrões e traficantes de drogas ligados a Maduro. No auge do absurdo, em determinado momento ele se declarou perseguido e criminalizado.
Esse tipo de evento está desenhado com uma lógica de ganhar ou perder. A maioria das mensurações e análises reconheceu a vitória da candidata e, acima de tudo, um sentimento de esperança foi fortalecido entre a população. Contudo, no pós-debate, a grande mídia equiparou as duas intervenções, alegando que nenhum deles fez propostas importantes, que ambos se atacaram igualmente e que ela havia demonstrado uma atitude “agressiva” e “histérica”. Não é apenas uma forma de encobrir o fraco e inadequado desempenho de Noboa, mas também de colocar verdades e mentiras no mesmo nível, e de desqualificar as sérias propostas políticas apresentadas por uma mulher.
Uma semana depois, no sábado, 29 de março, o acontecimento significativo foi de esperança: na paróquia indígena de Tixán, na Serra central, foi assinado o Acordo pela Vida entre a Revolução Cidadã e o Movimento Pachakutik. O acordo reafirma uma vocação popular e transformadora, num momento em que os apelos à unidade para “salvar o país” se dividem em duas tendências opostas. Os 25 pontos acordados confirmam substancialmente o projeto de governo da Revolução Cidadã, referem-se à defesa da Constituição e visam a recuperação imediata da justiça social. Esse ato foi saudado pela candidata como um passo histórico, uma expressão de amor ao povo e de maturidade política, ao mesmo tempo, o líder do Pachakutik enfatizou a necessidade de não entregar “nem um voto à direita”.
A abrangência de uma crise sem precedentes tornou imprescindível uma tomada de posição por parte dos setores que, embora careçam de peso eleitoral decisivo, assumem o significado simbólico de adesão a um projeto de transformação, agora em resistência, que se espera poder ser retomado. A unidade, há muito percebida como necessária pelas bases, agora foi adotada por lideranças que, ao mesmo tempo, buscam resgatar seus movimentos de um incompreensível desvio à direita.
Enquanto isso estava acontecendo, o presidente-candidato usava recursos públicos para marcar um encontro e uma sessão de fotos com Trump em Miami, lugar em que nasceu e que frequenta, em busca de ganhos eleitorais. Essa reunião, como todo o resto, oscila em um incerto limite entre o privado e o oficial, com agenda e acordos nebulosos, mas tenebrosos em relação à instalação de bases militares estadunidenses, a ampliação do conceito de “terrorismo”, entre outras coisas.
Por trás dos termos eleitorais existem disputas estruturais reconhecidas. Assim, esta é a chegada de uma mulher à presidência que, como ela mesma repete, “não chega sozinha”. Ela vem com as mulheres que lideraram o movimento político mais importante dos últimos dezoito anos, com as mulheres que abriram caminhos políticos de igualdade na história recente e passada, e com todas aquelas que asseguram o sustento e a vida do povo, ainda mais nestes tempos tão adversos.
Trata-se também de uma disputa pela reconfiguração de uma sociedade que, em parte, resvalou perigosamente para a condição de “eleitores enganados” e inclusive “autoenganados”, enfraquecendo sua condição de cidadãos detentores de direitos integrais, construída como base e horizonte do projeto Revolução Cidadã. Essa memória social é o que mantém à tona um processo que vem sendo implacavelmente perseguido e assediado desde 2017.
Trata-se da própria existência de uma nação soberana e integrada à região, pois o controle desse pequeno território é cobiçado por seus recursos estratégicos e localização geopolítica. As condições para a implementação do mercado total almejado pela extrema direita avançaram dramaticamente nos últimos anos. A partir daí, o risco de chegar a um ponto sem retorno surge como uma possibilidade assustadora.
As referências à vida como conceito central nos projetos de país têm sido uma constante nas duas fases sucessivas da história recente. Entre 2007 e 2017, foi promovida uma transformação a partir da proposta inovadora do Bem Viver como alternativa aos males do neoliberalismo. Com o retorno desse regime, os níveis de destruição das condições de vida, dos direitos, da produção, dos bens públicos, da democracia, do tecido social e da paz foram tais que a percepção é de que o sentido mais básico da vida está ameaçado.
De imediato, defender uma vitória eleitoral segura e reunir todas as forças aliadas, nacionais e internacionais, para proteger do assédio um governo que visa reviver a pátria, será a primeira tarefa.
Magdalena León integra a REMTE (Rede Latino-Americana de Mulheres Transformando a Economia) no Equador.