Por que falar sobre economia feminista na luta pela justiça ambiental?

11/08/2025 |

Mechi Gould

Mechi Gould compartilha as descobertas e agendas da Amigos da Terra Internacional sobre economia feminista

FoEI, 2021

A economia feminista não é apenas uma teoria, mas um compromisso político concreto e vivo, atualmente presente em muitas das lutas da Amigos da Terra. Nesta apresentação, resumirei os motivos pelos quais é importante falar sobre economia feminista a partir de uma federação que luta por justiça ambiental.

Em primeiro lugar, porque buscamos desmantelar o patriarcado, porque não queremos viver em um mundo injusto e violento. Queremos transformá-lo, mas essa transformação não pode ser alcançada sem questionar o patriarcado, nem sem questionar o capitalismo, o colonialismo e o racismo que fundamentam esse sistema de opressão.

Queremos também falar de economia feminista porque priorizamos a vida e buscamos reconhecer o trabalho invisibilizado que sustenta todo o cuidado que torna a vida possível. Não queremos um sistema que explore corpos e territórios, mas um que defenda uma vida digna para todos e todas.

Acreditamos que a economia feminista é uma proposta política para essa mudança de sistema que buscamos. Não se trata apenas de um elemento decorativo, algo que simplesmente nomeamos, mas de um tema verdadeiramente transversal que queremos explorar. Vemos essa perspectiva refletida em nossas lutas, que construímos com outras e outros. Não estamos isolados, mas formamos um sujeito político plural e coletivo.

Vemos a economia feminista na construção de um paradigma de sustentabilidade da vida baseado na igualdade, que coloca a vida no centro do cuidado, tanto com a vida humana como com a natureza, reconhecendo que somos interdependentes e ecodependentes. Vemos também os princípios da economia feminista na defesa dos bens comuns, que são condições para o bem-estar coletivo e que não podem ser mercantilizados.

Isso também implica reconhecer e reorganizar o trabalho doméstico e de cuidados como uma responsabilidade compartilhada não apenas entre homens e mulheres, mas também entre comunidades e Estados, com verdadeiras políticas. A economia feminista está também no impulsionamento dessas políticas de cuidado e na reorganização de espaços que promovam ações coletivas e comunitárias.

Vemos a economia feminista na elaboração de políticas públicas e leis que gerem a desmercantilização e a recuperação justa da vida. Essas são áreas que participamos como federação, impulsionando a luta pela soberania alimentar, defendendo a agroecologia e as práticas historicamente conduzidas por mulheres. Isso também significa dizer não a propostas de falsas soluções baseadas na eficiência, na eficácia tecnológica e ainda mais na mercantilização.

Também vemos a economia feminista quando falamos da necessidade de uma transição justa que limite o extrativismo e expanda a desmercantilização, gerando mudanças reais nos modos de produção e de viver do nosso sistema atual. Também a vemos na concepção de sistemas de justiça que não reproduzam a opressão e que reconheçam a cidadania das pessoas migrantes e a diversidade das identidades sexuais. Essas são áreas importantes de trabalho atravessadas pelas diferentes linhas programáticas nas quais vemos que a economia feminista está presente como proposta política.

Então, por que falar sobre economia feminista na justiça ambiental nos fortalece? Primeiro, porque fortalece nossas parcerias. A economia feminista não é algo isolado. Ela é construída coletivamente, em conjunto com movimentos de mulheres, sindicais, de juventude, indígenas, entre outros. Sempre que falamos sobre economia feminista, estamos falando com outras e outros.

A economia feminista fortalece nossas estratégias porque nos faz refletir e enxergar o que muitas vezes está invisibilizado, o que nem sempre é levado em conta, mas que sustenta a vida. Ela nos dá mais ferramentas para disputar sentidos e construir outras formas de organização da vida, e também fortalece nossa coerência política.

Sempre dizemos que não há mudança de sistema sem justiça de gênero. Mas, com a economia feminista, podemos dizer que não há mudança de sistema, nem justiça de gênero, sem mudança na economia, nas relações de poder, em nossas formas de produzir e reproduzir a vida. A transformação é urgente, e nossas lutas estão profundamente conectadas. Quando nos unimos a outros movimentos, quando compartilhamos não apenas demandas, mas também horizontes políticos, a mudança de sistema se torna mais possível.

Mechi Gould integra o Terra Nativa na Argentina e o Grupo de Justiça de Gênero e Desmantelamento do Patriarcado da Amigos da Terra Internacional. Este artigo é uma transcrição editada de sua apresentação no webinário “Construindo Propostas para a Economia Feminista e a Justiça Ambiental”, organizado pela Amigos da Terra Internacional, Marcha Mundial das Mulheres, Capire e Rádio Mundo Real em 15 de julho de 2025.

Edição e revisão da tradução por Helena Zelic
Traduzido por Aline Lopes Murillo
Idioma original: espanhol

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