Mulheres trabalhadoras em luta no Panamá: por previdência e soberania

27/06/2025 |

Isabel Guzmán

Isabel Guzmán, da CSA, fala sobre as demandas das mulheres na greve sindical em curso há mais de um mês

O Panamá segue sendo um cenário de conflitos intensos e de mobilizações populares por soberania. Os movimentos sociais do país e aliados internacionais denunciam as prisões políticas, a retirada de direitos e ampliação do imperialismo estadunidense no país e o bloqueio midiático que controla as narrativas sobre os acontecimentos na mídia internacional. Desde o início das mobilizações o governo e as forças armadas seguem atuando de forma repressiva contra povos originários, mulheres e militantes sindicalistas. Em apelo recente, a CSA-TUCA fez uma convocação ao sindicalismo global para apoiar a luta panamenha e denunciar as prisões de dirigentes como Genaro López e Jaime Caballero, e perseguição a Erasmo Cerrud e à Saúl Méndez, agora exilado na Bolívia.

Mobilizações recentes exigem a renúncia do presidente no poder e suas políticas de militarização e de ampliação do extrativismo. Também rechaçam a política do governo Trump que segue sequestrando os recursos do país. Em texto disponível abaixo, Isabel Guzmán explica os acontecimentos recentes e fala sobre a participação e reivindicação das mulheres nessa luta.

A greve no Panamá começa em 23 de abril de 2025, devido a uma série de situações decorrentes da reforma da previdência social no país. O governo de José Raúl Mulino tem praticado intimidações e ameaças contra o povo panamenho.

O processo de negociação em torno da reforma

Em um primeiro processo, na Presidência da República, foram instaladas duas mesas. Na primeira, uma mesa de escuta para a reforma da previdência social, estava o programa de Invalidez, Velhice e Morte (IVM), que é um dos que mais afeta a população. A outra era uma mesa de benefícios de saúde. Foi um processo de escutar sem assumir as diferentes propostas que os grêmios tinham.

Em seguida, foi realizada uma consulta supostamente dirigida aos grêmios e à população na Assembleia Nacional. Nesse momento, foi apresentada a proposta de lei 462, que altera o sistema de previdência social. Os grêmios foram ouvidos, mas as reivindicações que apresentamos não foram incluídas. Em seguida, a lei é efetivamente implementada, prejudicando o sistema de pensões da classe trabalhadora. Vemos a intenção do governo de também patrocinar os interesses dos empresários para que os fundos de pensões passem para mãos privadas. Além disso, surge o que é um memorando de entendimento entre o Panamá, assinado pelo governo, e os Estados Unidos, que prejudica a soberania do país.

A greve

A greve começa com as e os educadores que saem às ruas em defesa da previdência social e para solicitar a revogação da lei 462. Em seguida, no dia 28 de abril, juntam-se o setor bananeiro, bastante forte no país, e o setor da construção. Uma série de grêmios e a comunidade em geral, em todo o país, em todas as províncias, vão se juntando ao movimento.

Também eclodem manifestações contra a venda da pátria, em defesa da soberania.

Outro motivo para a greve é a intenção do governo de reativar o projeto de mineração e impor as represas do rio Indio para o acúmulo de água para o canal do Panamá. Essa ação está sendo chamada de multipropósitos, pois havia uma série de propósitos para essa represa, como, é claro, a perseguição ao movimento popular, social e sindical, o ataque à liberdade sindical e, obviamente, à democracia.

A greve conta com grande apoio popular em todo o país, obtendo como resposta do governo uma escalada repressiva sem precedentes por parte de um mandatário de legitimidade questionável. O que vemos neste momento é a ditadura novamente em nosso país. A repressão causou dezenas de feridos e mais de uma centena de detidos, além de desaparecidos, juntamente com uma campanha de desacreditação e difamação contra os lutadores sociais e perseguição contra a organização mais forte do país, que é o Sindicato Único Nacional dos Trabalhadores da Indústria da Construção e Afins (Suntracs). Os dirigentes dessa organização estão detidos e o companheiro Saúl Méndez, por ter sua vida ameaçada, está em situação de asilo na embaixada da Bolívia.

Vemos um governo que despreza a dissidência política ideológica e o fato de levantarmos a voz pelos direitos humanos, as conquistas e os direitos trabalhistas, as leis nacionais e os acordos sobre liberdade sindical.

As mulheres em luta

Nós, mulheres, participamos ativamente desse processo nas mesas de escuta. Apresentamos propostas para o sistema de cuidados que deve ser levado em consideração na previdência social e para os baixos salários das trabalhadoras. Consideramos necessário revisar o sistema salarial para que as mulheres possam ter uma aposentadoria mais digna.

Somos nós, mulheres, que carregamos e subsidiamos com o trabalho de cuidado que realizamos o vazio de condições sociolaborais e políticas de bem-estar que nem o Estado nem as empresas oferecem. Enfrentamos um retrocesso significativo com a privatização dos fundos de pensão, que nos condena a pensões miseráveis. Embora digam que a idade de aposentadoria não será aumentada, a reforma prejudica as mulheres e, sobretudo, a juventude. O que isso demonstra é o ódio do Estado pela classe trabalhadora.

Na mesa do programa Invalidez, Velhice e Morte (IVM) também participaram companheiras que fazem parte da Aliança Povo Unido pela Vida e, especificamente, do espaço da Rede de Mulheres Trabalhadoras. Defendemos os motivos pelos quais nós, mulheres não aceitamos o aumento da idade de aposentadoria. Agora, com essa Lei 462, afirma-se que a idade de aposentadoria não será aumentada. No entanto, isso é feito na prática, pois o sistema individual não permitirá que haja aposentadorias dignas para as trabalhadoras e a juventude. Sem uma aposentadoria digna, as mulheres serão obrigadas a continuar trabalhando além da idade de aposentadoria.
 

Nós, mulheres, estivemos na luta, na assembleia e nas ruas, onde sofremos repressão. Vimos como mulheres indígenas, camponesas e meninas são violentadas. Elas foram espancadas, feridas. As professoras também foram agredidas covardemente pela polícia nacional.

Vemos uma escalada da violência contra as mulheres por parte do governo nacional e da polícia nacional.
 

Exigimos também a demissão das ministras da Educação e do Trabalho, que deveriam se preocupar em garantir que as políticas visem eliminar a precariedade que cerca as mulheres no mercado de trabalho, além das disparidades salariais de gênero e a violência brutal exercida contra as mulheres. Exigimos que seja cumprida a Convenção 190 sobre violência e assédio no mundo do trabalho, que foi ratificada pelo Panamá e que, neste momento, também está sendo violada.
 

Solidariedade feminista internacionalista

Até agora, não vimos nenhum progresso. O governo do Panamá não cedeu a nenhuma das nossas petições. Mesmo que todo um povo esteja nas ruas, é incapaz de criar pontes para o diálogo. Realizamos coletivas de imprensa nos grêmios de mulheres trabalhadoras e muito mais. Saímos às ruas no dia 25 de maio, em uma grande marcha de mulheres para exigir que o governo ouça o povo.

Isabel Guzmán integra a Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA).

Traduzido por Aline Lopes Murillo
Revisão da tradução por Helena Zelic
Edição por Bianca Pessoa
Idioma original: espanhol

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