Naama Nsiri: uma defensora incansável dos direitos e das liberdades das mulheres

09/02/2025 |

Por Amel Arbaoui, Habiba Trifi e Souad Mahmoud

Leia uma homenagem à militante da Marcha Mundial das Mulheres da Tunísia, que faleceu em maio de 2024

Nossa companheira Naama, militante feminista, conduziu uma excepcional carreira política e sindical num contexto de ditadura e de sociedade patriarcal, onde o ativismo era muitas vezes considerado um campo reservado aos homens. Nascida em 9 de fevereiro de 1964 em Sfax, participou desde muito cedo do movimento estudantil da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas e Políticas de Susa. Durante a ditadura de Ben Ali, sua casa serviu de refúgio aos companheiros e companheiras que fugiam da repressão policial.

Em 1992, obteve o título de mestre em direito privado e, em 1995, começou a trabalhar no Tribunal de primeira instância de Sfax. Naama rapidamente assumiu as responsabilidades sindicais, tornando-se secretária-geral adjunta do Sindicato de base dos funcionários da justiça em 2003, depois foi secretária-geral do Sindicato Regional de Justiça em 2006. Pioneira na defesa dos direitos dos escrivães judiciais, desempenhou um papel fundamental na criação do Comitê Setorial Regional das Mulheres Trabalhadoras da Justiça em abril de 2006. Suas atividades sindicais lhe renderam represálias, incluindo ameaças de demissão do Conselho Disciplinar, sob o regime de Ben Ali.

Mulher de esquerda e militante feminista fervorosa, Naama fundou em 2008 um Comitê Regional de apoio às e aos habitantes da bacia mineira, em resposta a protestos contra injustiças sociais e julgamentos ilegítimos. Em 2007, obteve um certificado de aptidão para a profissão de advogada e dedicou sua tese de conclusão de estágio à questão do assédio sexual, quebrando assim um tabu.

Seu compromisso com os direitos humanos e os direitos das mulheres nunca se separou da sua prática jurídica. Após a Revolução de 2011, Naama trabalhou pela unificação das mulheres e a proteção de seus direitos, levando à criação da seção regional da Associação Tunisiana de Mulheres Democráticas em Sfax, da qual se tornou secretária-geral. Ela também esteve envolvida na Liga Tunisiana dos Direitos Humanos, onde ocupou vários cargos de responsabilidade.

Naama, militante feminista cuja luta transcendeu as fronteiras das organizações nacionais, estava envolvida desde 2015 com a Marcha Mundial das Mulheres como coordenadora regional do sul da Tunísia. No centro da luta feminista, uma estrela apareceu no céu da Marcha Mundial das Mulheres. Essa estrela brilhante, que tem sido um farol de esperança e inspiração para muitas mulheres, juntou-se à Marcha desde o início, com a criação da Coordenação Nacional, na sequência da visita da Coordenadora Internacional em 8 de março de 2013, e como resultado das suas diretivas e conselhos que lhe abriram caminho. Graças à sua coragem e força de vontade, Naama criou a Coordenação Regional do sul da Tunísia em Sfax, uma cidade de tradições, patrimônio e história, e contribuiu para o estabelecimento da Coordenação Regional do Centro do país em Kairouan, cidade que também tem um rico patrimônio cultural. Está em curso a fundação da Coordenação Regional no norte da Tunísia, para liderar a luta em todo o país.

Essa verdadeira heroína foi parte integrante da 4ª Ação Internacional da Marcha, que impulsionou a defesa dos corpos e territórios das mulheres. Ativa e dedicada em todas as atividades de coordenação, não deixou passar uma oportunidade sem a aproveitar para transmitir sua nobre mensagem. Organizou o Dia de Luta Anti-imperialista e homenageou as vítimas de Rana Plaza com dor e esperança, em memória das trabalhadoras de Bangladesh que perderam a vida para ganhar a vida em 24 de abril de 2013. Ela também se comunicava com as mulheres que trabalhavam nas Ilhas Kerkennah, para mostrar que a luta não conhece fronteiras geográficas.

Em 2016, participou do 1º Encontro Regional da MMM do Norte da África e Oriente Médio (MENA), na Tunísia, um momento decisivo na sua vida militante. Em 2018, viajou a Bilbau para participar do 11º Encontro Internacional, onde trocou ideias e experiências com militantes de todo o mundo, acrescentando assim mais profundidade e dinamismo à sua trajetória.

Continuou sua atividade na Marcha com o mesmo entusiasmo e determinação com que participou das atividades da 5ª Ação Internacional e, em 2020, durante o 12º Encontro Internacional organizado à distância, foi eleita membro do Comitê Internacional, onde foi responsável, junto com nossa companheira palestina, pela região MENA. Seu mandato foi rico em êxitos e desenvolveu várias atividades que influenciaram a Marcha e aumentaram sua força e influência, pois supervisionou a organização do 2º Encontro Regional da Marcha pelo Norte da África e o Oriente Médio na Tunísia em 2021. Em outubro de 2023, durante o 13º Encontro Mundial, foi reeleita para um segundo mandato em reconhecimento aos seus esforços e suas consideráveis contribuições.

Nossa camarada Naama faleceu em 21 de maio de 2024, deixando um legado de coragem e dedicação ao movimento feminista e de direitos humanos. Sua trajetória ilustra a luta incessante pela igualdade e pela justiça numa sociedade onde esses valores são frequentemente desafiados. Tememos esse apagamento gradual, esse borrão que ameaça manchar os contornos do seu rosto, atenuar o eco da sua voz na nossa memória. É um terror silencioso esse de já não sentir o calor das suas palavras, de já não encontrar refúgio nas nossas lembranças em comum. Sua partida é uma forma de injustiça, um abismo no qual tememos afundar, onde toda a memória pode se dissolver, deixando-nos sozinhas perante um vazio insuportável. No entanto, agarramo-nos a esses fragmentos de vida, a esses momentos preciosos que nos recusamos a deixar desaparecer, porque é através deles que sua essência continua vivendo em nós.

Uma bênção que permanecerá viva em nós e nos nossos corações, uma luz brilhante para todos aqueles e todas aquelas que acreditam na luta democrática nacional e na justiça social. Essa estrela que iluminou nosso caminho continuará a ser um farol de esperança e de luta para as mulheres em todo o mundo. Glória e eternidade para você, companheira combatente internacional, e de nós para você, lealdade eterna enquanto vivermos. Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Esta homenagem é uma edição das contribuições de Amel Arbaoui, Habiba Trifi e Souad Mahmoud, integrantes da Marcha Mundial das Mulheres na Tunísia.

Editado por Bianca Pessoa e Gaëlle Scuiller
Traduzido do francês por Andréia Manfrin Alves
Língua original: francês

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