Há mais de um século, o 8 de março é um dia internacional de luta das mulheres. Neste ano de 2021, o movimento de mulheres em todo o mundo se reinventa, criando estratégias simbólicas e virtuais para marcar esse dia de luta mesmo sem poder ocupar massivamente os espaços públicos. Em tempos de crise, na pandemia, e no cotidiano, são as mulheres que levantam suas vozes, resistem e, dia a dia, com seu trabalho, sustentam a vida. Com práticas coletivas, construímos alternativas de vida e renovamos a esperança para transformar o mundo.
A Marcha Mundial das Mulheres afirma, em sua declaração, que “o 8 de março é parte de nossos processos coletivos de resistência que confrontam a lógica neoliberal de destruição do Estado, privatização, competitividade e individualismo. Nosso feminismo constrói economia feminista, solidariedade, reciprocidade, soberania e poder popular”. As mulheres da Via Campesina nos convocam a lutar “contra o vírus do patriarcado e do capitalismo”, afirmando “a vacina do feminismo e da solidariedade”. Denunciam as empresas transnacionais, o agronegócio e seu projeto de morte. Retomam o papel fundamental das mulheres camponesas na produção de alimentos, assim como a força da construção da soberania alimentar como projeto concreto para enfrentar a crise que vivemos transformando a sociedade.
A cada ano e em todos os cantos, as mulheres se juntam e se manifestam, ocupando as ruas, as redes e os roçados, nas capitais e nos interiores, com irreverência e rebeldia. Recuperar essa memória viva e coletiva é nossa tarefa permanente, especialmente frente ao individualismo neoliberal e aos ataques à nossa história coletiva, feminista, antirracista, anticapitalista.
A galeria “Memória viva do 8 de março” é uma contribuição inicial de Capire para construir e manter nossa memória coletiva, e reúne uma pequena amostra da força do 8 de março em todo o mundo. Apresentamos 133 fotos de 44 mulheres de 40 lugares (cidades, territórios, países) que enviaram seus registros fotográficos, tirados em diversos anos. Algumas contribuições extrapolaram o 8 de março, e por isso irão compor as próximas galerias em Capire.
Diferentes olhares registram lutas que têm muito em comum. Juntas, as mulheres cantam, tocam e gritam por autonomia sobre seus corpos e sexualidades, por uma vida sem violência. Denunciam a exploração do trabalho, as fronteiras, muros e prisões. Enfrentam governos autoritários, resistem à repressão. Ocupam as ruas, subvertem símbolos racistas, patriarcais e colonialistas nas cidades, registram seu recado nos muros. Propõem uma vida que vale a pena ser vivida. Se encontram, se abraçam, recuperam as forças e criam alegria e esperança nos contextos mais adversos – tão diferentes, tão iguais. As fotos abaixo representam esses, e muitos outros, componentes da potência que é a auto-organização das mulheres para mudar o mundo.