Feminismo popular e integração regional: publicação virtual da Marcha Mundial das Mulheres das Américas

14/12/2023 |

Por Capire

Leia o caderno de textos produzido pelo Capire e a Marcha Mundial das Mulheres das Américas.

Esta publicação virtual reúne elaborações feministas sobre a construção do internacionalismo e sobre a participação fundamental das mulheres lutadoras nos processos de integração dos povos.

Nas entrevistas inéditas, Alejandra Laprea e Norma Cacho falam sobre a organização da Marcha Mundial das Mulheres nas Américas e os desafios internacionais do movimento; os textos de Alejandra Angriman, Elpidia Moreno e Karin Nansen são edições de seus discursos no webinário “Feminismo e Integração Regional”, realizado em novembro de 2023; os de Ana Priscila Alves e Irene León trazem suas contribuições na 3ª conferência Dilemas da Humanidade em suas etapas regional e internacional, em setembro e outubro de 2023. O texto de nossa querida companheira Nalu Faria, publicado originalmente em 2021, foi escolhido para abrir nossa publicação, avivando sua memória, seu legado e sua visão precisa sobre as estratégias para a construção do feminismo popular.

Especialmente na América Latina e no Caribe, enfrentamos uma história de ofensivas imperialistas que, há mais de cinco séculos, impõem violências sobre nossos territórios e modos de vida. Nos tempos atuais, essas ofensivas se dão a partir de campanhas e forças conservadoras, neoliberais e fascistas, alinhadas com projetos de subordinação, exploração, extrativismo — projetos a mando de Estados do Norte global e de empresas transnacionais, que acumulam um poder maior do que muitos Estados.

Ao mesmo tempo, vemos uma profusão de lutas por todo o continente, com uma marca em comum: as mulheres na linha de frente, articulando, denunciando, sustentando a vida, a comunidade e o movimento. Nas resistências cotidianas, percebem as conexões entre o patriarcado, o racismo e o capitalismo neoliberal. Contra esse modelo autoritário, propõem um feminismo popular, antirracista, diverso, profundamente enraizado nos territórios, mas também atento às experiências de lugares vizinhos, praticando, no internacionalismo, o princípio da unidade na diversidade, rechaçando a competição entre fronteiras nacionais historicamente violentas e coloniais.

Os movimentos populares latino-americanos e caribenhos são construtores de possibilidades coletivas, mesmo diante de contextos de repressão, autoritarismo e austeridade. O fazem com criatividade, apostando na construção de processos políticos amplos, em transformações antissistêmicas, no aprofundamento da democracia e de uma soberania popular que engloba diversas dimensões. Nesse sentido, defendemos a integração regional como um projeto que envolve todas as áreas da vida, como a comunicação, a cultura e a economia, orientados pela soberania alimentar, energética e tecnológica. A integração regional avança com governos progressistas, que são fruto da luta e mobilização popular em cada país, mas se fortalece principalmente pela ação dos povos.

Para a Marcha Mundial das Mulheres nas Américas, a integração regional traz memórias de momentos chave de luta continental, que ecoam até hoje, como a vitória popular contra a ALCA. Ela também aponta para caminhos futuros de fortalecimento de alianças, aprofundamento de nossa visão estratégica sobre economia feminista e sustentabilidade da vida, e a construção de um campo feminista internacional combativo, diverso e em movimento permanente.

Com esta publicação, esperamos contribuir para a reflexão das companheiras de nossas coordenações nacionais e de organizações aliadas. E, ao mesmo tempo, buscamos contribuir para ações fundamentais do calendário de lutas que se abre: a Jornada Latino-americana e Caribenha de Integração dos Povos, que acontecerá em Foz do Iguaçu entre 22 e 24 de fevereiro de 2024; e a 6ª Ação Internacional da MMM, que se dará ao longo de 2025, sob o lema “Seguiremos em marcha contra as guerras e o capital, por soberanias populares e o bem viver”, que nos guia enquanto movimento no tempo presente, rumo ao futuro.

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