Neste 1° de maio de 2022, Dia Internacional das Trabalhadoras e Trabalhadores, Capire compartilha sua primeira cobertura fotográfica. Estivemos nas mesmas ruas que receberam milhares de mulheres nos últimos anos por aborto legal, seguro e gratuito, e que antes disso também receberam povos em luta contra o livre comércio e a dívida, por integração regional, por memória, verdade e justiça, contra a repressão e por democracia, por direitos trabalhistas, pelos bens comuns, por soberania popular. Neste 1° de maio, participamos da marcha de trabalhadoras e trabalhadores de Buenos Aires, na Argentina, ocupando ruas marcadas pela resistência, mas também pelas vitórias populares e feministas.
Compartilhamos abaixo fotografias que mostram a radicalidade, a organização e o protagonismo das mulheres nos movimentos sindicais durante a manifestação. Também publicamos relatos de mulheres militantes presentes, sobre os desafios do mundo do trabalho hoje, e sobre as tarefas do feminismo na transformação social. A participação na manifestação encerra a 3ª Assembleia Continental da ALBA Movimentos. Seguiremos publicando conteúdos de cobertura da assembleia ao longo do mês de maio.
Tivemos importantes avanços na questão do feminismo popular. É muito importante compreender a diversidade dos movimentos de mulheres e dos debates do feminismo, mas ter também uma compreensão comum do que é o feminismo hoje na América Latina, e a necessidade de que ele seja transversal nas diferentes lutas. Só é possível construir um socialismo justo se construímos o feminismo. As lutas contra o capitalismo e contra o imperialismo são, necessariamente, lutas contra o patriarcado.
Messilene da Silva, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Brasil.
Faz mais de dez anos que estamos construindo o sindicalismo com a União de Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), essa ferramenta de unidade da classe. O movimento sindical na Argentina tem uma história muito forte. Neste caminho de construção sindical, também amadurecemos as limitações institucionais da nossa democracia e de nosso Estado para integrar as economias populares. Hoje, em 2022, podemos dizer que a economia popular da indústria têxtil ultrapassou a economia de mercado em termos de produção e níveis de renda. Institucionalmente, ainda não temos a igualdade de direitos que buscamos conquistar. No processo de amadurecimento coletivo, descobrimos que nós, trabalhadoras e trabalhadores da economia popular, conseguimos ser, de certa forma, um anticorpo para o modelo neoliberal – porque temos a capacidade de trabalhar sem patrões.
Patricia Cubria, movimento Evita, Argentina
Neste 1º de maio, penso que faremos ouvir nossas vozes e vamos exigir um salário decente, que a maioria de nós não está recebendo. Somos feministas porque defendemos nossos direitos como mulheres em todas as suas manifestações. Quando a educação começou, ela estava a cargo dos homens, então essa atividade foi delegada às mulheres porque viram aí o papel [do cuidado]…. essa atividade começou a ser delegada às mulheres porque a educação era vista como um cuidado nas instituições, que as crianças vinham para ser cuidadas, mas nas instituições as crianças vêm para se formar, para aprender um monte de coisas que não são apenas um cuidado obrigatório; nós, professoras, não somos mães, até podemos ser fora do horário de trabalho, mas não nas instituições de ensino, onde ensinamos como qualquer adulto, qualquer homem ou mulher que desempenhe essa atividade.
Adriana Aldrete, da Federação de Jardins Comunitários de La Matanza e Coletivo Nacional de Infância, Adolescência e Família (CONNAF na sigla em espanhol).
Também podemos trabalhar, lutamos todos os dias lado a lado com os homens, temos as mesmas responsabilidades que os homens, embora muitas vezes elas não sejam reconhecidas. Somos uma cooperativa com grupos de mulheres trabalhadoras da construção civil, de grupos têxteis, grupos que trabalham com confeitaria, que fazem artesanato para feiras, também somos militantes. Antes a maioria das pessoas via apenas os companheiros homens nas cooperativas. A cooperativa uniu muito as mulheres. Tem muitas meninas que sofreram violência de gênero. Eu também sofri. Mas fomos nos unindo, buscando recursos e formando grupos de mulheres.
Sara Gallardo, da Cooperativa 8 de março de Lomas de Zamora.